Amigos, não consultem os relógios quando um dia eu me for de vossas vidas em seus fúteis problemas tão perdidas que até parecem mais uns necrológios...
Porque o tempo é uma invenção da morte: não o conhece a vida - a verdadeira - em que basta um momento de poesia para nos dar a eternidade inteira.
Inteira, sim, porque essa vida eterna somente por si mesma é dividida: não cabe, a cada qual, uma porção.
E os Anjos entreolham-se espantados quando alguém - ao voltar a si da vida - acaso lhes indaga que horas são...
Mario Quintana -
A violeta
(A uma icógnita... )
A ROSA vermelha Semelha Beleza de moça vaidosa, indiscreta. As rosas são virgens Que em doudas vertigens Palpitam, Se agitam E murcham das salas na febre inquieta.
Mas ai! Quem não sonha num trêmulo anseio Prendê-las no seio Saudoso o Poeta.
Camélias fulgentes, Nitentes, Bem como o alabastro de estátua quieta... Primor... sem aroma!
Partida redoma! Tesouro Sem ouro! Que valem sorrisos em boca indiscreta?
Perdida! Não sonha num tremulo anseio Prender-te no seio Saudoso o Poeta
Bem longe da festa Modesta Prodígios de aroma guardando discreta Existe da sombra, Na lânguida alfombra, Medrosa, Mimosa, Dos anjos errantes a flor predileta
Silêncio! Consintam que em trêmulo anseio Prendendo-a no seio Suspire o Poeta.
Ó Filha dos ermos Sem temos! O casta, suave, serena Violeta Tu és entre as flores A flor dos amores Que em magos Afagos Acalma os martírios de uma alma inquieta.
Por isso é que sonha num trêmulo anseio, Prender-te no seio Saudoso o Poeta! ...
Delírio
Nua, mas para o amor não cabe o pejo Na minha a sua boca eu comprimia. E, em frêmitos carnais, ela dizia: – Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!
Na inconsciência bruta do meu desejo Fremente, a minha boca obedecia, E os seus seios, tão rígidos mordia, Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.
Em suspiros de gozos infinitos Disse-me ela, ainda quase em grito: – Mais abaixo, meu bem! – num frenesi.
No seu ventre pousei a minha boca, – Mais abaixo, meu bem! – disse ela, louca, Moralistas, perdoai! Obedeci...
Olavo Bilac
Ao coração que sofre, separado Do teu, no exílio em que a chorar me vejo, Não basta o afeto simples e sagrado Com que das desventuras me protejo.
Não me basta saber que sou amado, Nem só desejo o teu amor: desejo Ter nos braços teu corpo delicado, Ter na boca a doçura de teu beijo.
E as justas ambições que me consomem Não me envergonham: pois maior baixeza Não há que a terra pelo céu trocar;
E mais eleva o coração de um homem Ser de homem sempre e, na maior pureza, Ficar na terra e humanamente amar.